Há sintomas da covid-19 em idosos que têm passado despercebidos?
“Nos idosos em geral, qualquer tipo de doença pode ter uma manifestação monótona — a prostração, as alterações da consciência, a desidratação — e esses tipos de sintomas não só acompanham muitos tipos de doenças nos idosos, mas também se verificam em casos de infeção com covid-19. Portanto, se estivermos à espera, para pensar no diagnóstico, que o idoso tenha febre, tosse, mal estar ou falta de apetite, provavelmente falharão muitos diagnósticos de covid-19 nesta população”.

Porque têm os idosos mais risco no caso de infeção com a covid-19?
“Não são todos os idosos que têm mais risco, são sobretudo os que têm muitas doenças em simultâneo, que estão muito depauperados. Fala-se principalmente de três casos: idosos com diabetes, hipertensão e insuficiência cardíaca congestiva. Estes casos já são complicados, se forem enfraquecidos com outras doenças — falamos destas três mas há quem acumule muitas — é pior. A maior parte dos doentes que nos chegam têm sete patologias em simultâneo, além da doença aguda que os leva ao hospital.”

As medidas são necessárias, mas impor o isolamento a estas pessoas também tem um impacto psicológico enorme, certo?
“Sem dúvida. O delírio pode ser provocado e desencadeado por isolamento. O doente deixa de ter as suas referências pessoais, vai para um quarto onde não tem as suas coisas, não tem visitas dos seus familiares e a certa altura começa a ficar desorientado no espaço, não sabe onde está. Isto pode levar a um quadro de delírio, que tem uma medicação própria. Infelizmente, não vejo alternativa, não sei como se podem tratar estes indivíduos sem os colocar de quarentena e retirá-los do convívio. Naturalmente que deviam ser enquadrados num ambiente que lhes fosse o mais simpático possível e o mais integrado possível naquilo que faziam antes. Admito que muitos podem desenvolver delírio e isso é terrível.”

João Gorjão Clara, médico cardiologista especialista em geriatria e membro do Núcleo de Estudos de Geriatria da Sociedade Portuguesa da Medicina Interna