Dr. Francisco Miranda Rodrigues, bastonário da Ordem dos Psicólogos, sublinha que “não há pessoas fracas ou pessoas fortes”. Há, isso sim, “pessoas com estratégias para lidar com os diferentes acontecimentos da vida de forma psicologicamente mais ajustada, que têm mais facilidade na resolução de problemas ou que são mais resilientes, lidando melhor com a adversidade”. E “duas pessoas em situação semelhante, atribuem significados diferentes ao que estão a viver e isto pode ser determinante em termos de consequências psicológicas”. Afeta mais de 300 milhões em todo o mundo e é mais do que estar triste. A OMS chama-lhe "epidemia silenciosa".
Nesta questão da depressão, a “personalidade” de cada um também conta. “Não podemos retirar a personalidade das pessoas. Há pessoas com determinados tipos de personalidade que têm maior risco de vir a sofrer de depressão. Por exemplo, personalidades caracterizadas por grande dependência interpessoal, ou com características mais obsessivas”, acrescenta o psiquiatra Pedro Afonso. “O discurso da fraqueza está associado à ignorância. Ninguém está livre de sofrer.”
Mas se é verdade que a personalidade conta, também é certo que não é o único determinante da depressão, até porque esta é uma perturbação é multifatorial: pode ser reativa a um fenómeno ou um conjunto de fenómenos da vida que provocam grande sofrimento (morte de alguém próximo, uma doença, o fim de uma relação) ou pode até ser atribuída à genética e a uma maior predisposição para desenvolver este tipo de doença.
Também é claro já que a forma como as pessoas reagem e lidam com esse sofrimento vai sempre depender da sua personalidade, do momento da vida em que são confrontadas com determinado acontecimento, da idade, do ambiente em que cresceram, da rede de apoio familiar, entre outros fatores. Toda a gente concorda com estas causas multifatoriais da depressão. Mas o mesmo consenso não existe em relação aos tratamentos a aplicar. Há, pelo contrário, uma dicotomia que tem colocado em polos opostos psiquiatras e psicólogos ou psicoterapeutas quando o ideal, segundo a Organização Mundial de Saúde e as autoridades de saúde nacionais, é estarem todos articulados.
Medicação ou psicoterapia? As duas?
“A depressão major [a mais grave de todas] é como uma pneumonia. Tem de ser tratada com antibiótico. A ciência diz que é mandatório que se trate com antidepressivos, podendo-se associar outro tipo de abordagens terapêuticas, como a psicoterapia. Não podemos ignorar que quando uma pessoa sofre de depressão major tem alterações biológicas e todo o organismo se desregula. Temos de corrigir rapidamente a alteração do sono, por exemplo. Agora, uma depressão ligeira, quando associada a um fator exterior, pode ser tratada apenas com tratamento psicológico”, defende Pedro Afonso, psiquiatra, autor do livro “Quando a mente adoece“.
Mas o psiquiatra rejeita que o seu papel seja apenas o de prescrever medicamentos. “É preciso não cair em extremismos e não é bom fazer esta dicotomização. Os americanos é que falavam dos terapeutas da palavra e dos terapeutas da pastilha. Mas um psiquiatra não prescreve apenas um medicamento. Também fazemos psicoterapia.”
O diretor do Programa Nacional para a Saúde Mental, Álvaro de Carvalho, diz que é preciso ter cuidado na abordagem que é feita da depressão. “Temos muitos psicólogos que têm uma leitura muito superficial e pouco científica e há muita gente a fazer psicoterapia em Portugal que não tem formação na área da psicoterapia. Não basta ser psicólogo. É preciso ter psicoterapia na escola, formação teórica e um supervisor durante bastante tempo. Por outro lado há muitos psicólogos que, por não poderem prescrever, e numa atitude anti-médica, resistem ao máximo em conferir diagnósticos com um psiquiatra”, afirma o responsável da DGS, que admite, porém, que “do lado dos psiquiatras também há quem não confie minimamente na psicoterapia”. “Mas é da prática comum os psicoterapeutas com consciência do que se passa terem psiquiatras em quem confiam”, remata, acrescentando que “já existe alguma evidência que algumas formas de psicoterapia cognitivo-comportamentais, de curta duração, que não procuram chegar à causa, têm alguma eficácia” no tratamento da depressão.
Em relação ao tratamento da depressão, o bastonário da Ordem dos Psicólogos, Francisco Miranda Rodrigues, sublinha: “Cada caso é um caso. A depressão cura-se com terapia mas pode haver necessidade de introdução de medicamentos, dependendo do grau de depressão”.
A própria Organização Mundial de Saúde, no dossier que dedica à depressão, afirma que a psicoterapia é o tratamento indicado numa primeira abordagem em casos de depressões leves. “Os antidepressivos podem ser uma forma eficaz de tratamento para depressão moderada-grave, mas não são a primeira linha de tratamento para casos de depressão leve”, lê-se no site da OMS. A organização alerta ainda para os efeitos adversos associados aos antidepressivos, bem como para o perigo de usar medicação em crianças e nos adolescentes.